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No passeio matinal


AlexandreMiguel

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No passeio matinal

Dionísio, o moleiro, muito cedo partiu em companhia do filhinho, na direção de grande milharal.

A manhã se fizera linda.

Os montes próximos pareciam vestidos em gaze esvoaçante.

As folhas da erva, guardando, ainda, o orva­lho noturno, assemelhavam-se a caprichoso tecido verde, enfeitado de pérolas. Flores vermelhas, aqui e ali, davam a ideia de jóias espalhadas no chão.

As árvores, muito grandes, à beira da estra­da, despertavam, de leve, à passagem do vento.

O Sol aparecia, brilhante, revestindo a pai­sagem numa coroa resplandecente.

Reinaldo, o pequeno guiado pela mão pa­terna, seguia num deslumbramento. Não sabia o que mais admirar: se o lençol de neblina muito alva, se o horizonte inflamado de luz. Em dado momento, perguntou, feliz:

— Papai, de quem é todo este mundo?

— Tudo pertence ao Criador, meu filho —esclareceu o moleiro, satisfeito —; o Sol, o ar, as águas, as árvores e as flores, tudo, tudo, é obra dEle, nosso Pai e Senhor.

— Para que tudo isto? — continuou o petiz contente.

— A fim de recebermos esta escola divina, que é a Terra.

— Escola?

— Sim, filho — tornou o genitor pacien­te —, aqui devemos aprender, no trabalho, a amar-nos uns aos outros, aprimorando senti­mentos, quanto devemos aperfeiçoar o solo que pisamos, transformando colinas, planícies e pe­dras em cidades, fazendas, estábulos, pomares, milharais e jardins.

Reinaldo não entendeu, de pronto, o que significava “aprimorar sentimentos”; contudo, sabia perfeitamente o que vinha a ser a remoção dum monte empedrado. Surpreso, voltou a in­dagar:

— Então, papai, somos obrigados a traba­lhar tanto assim? Como será possível modificar este mundo tão grande?

O moleiro pensou alguns instantes e ob­servou:

— Meu filho, já ouvi dizer que uma ando­rinha vagueava só, quando notou que um incên­dio lavrava em seu campo predileto, O fogo consumia plantas e ninhos. Em vão, gritou por socorro. Reconhecendo que ninguém lhe escutava as súplicas, pôs-se rápida para o córrego não distante, mergulhando as pequenas asas na água fria e límpida; daí, voltava para a zona incen­diada, sacudindo as asas molhadas sobre as chamas devoradoras, procurando apagá-las. Re­petia a operação, já por muitas vezes, quando se aproximou um gavião preguiçoso, indagando-lhe com ironia: — “Você, em verdade, acredita com­bater um incêndio tão grande com algumas gotas dágua?“ A avezinha prestativa, porém, respondeu, calma: — “É provável que eu não possa fazer a obra toda; entretanto, sou imensa­mente feliz cumprindo o meu dever.

O moleiro fêz uma pausa e interrogou o filho:

— Não acredita você que podemos imitar semelhante exemplo? Se todos procedêssemos como a andorinha operosa e vigilante, em pouco tempo toda a Terra estaria transformada num paraíso.

O menino calou-se, entendendo a extensão do ensinamento e, no íntimo, contemplando a beleza do quadro matinal, desde as margens do caminho até a montanha distante, prometeu a si mesmo que procuraria cumprir no mundo todas as obrigações que lhe coubessem na obra sublime do Infinito Bem.

Emmanuel

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