Jump to content
  • advertisement_alt
  • advertisement_alt
  • advertisement_alt

SOBRE SUICÍDIO


sandrofabres

Recommended Posts

Vira e mexe aparece alguém aqui perguntado sobre suicídio, então resolvi criar este tópico para reunir alguns poucos pontos sobre alguns  problemas que o suicídio produz.

 

Em geral as pessoas com alguma educação sobre o tema da espiritualidade já conhecem essas explicações, mas em geral elas ficam soterradas por toneladas de discursos emocionais, moralistas, religiosos, que exasperam qualquer leitor, ainda mais uma pessoa que já anda com idéias suicidas, e portanto com a paciência já meio no final  para o mimimi religioso moralista né? 

Pensando nisso,  tentarei resumir as explicações mais diretas, de acordo com o que já entendi até hoje sobre isso:

 

Os  problemas do suicídio são de ordem psicológica e energética: 

 

1- QUESTÃO PSICOLÓGICA:

Durante a vida física podemos entrar em estados depressivos, mas eles nunca são tão intensos quanto os estados emocionais que você sente estando fora do corpo físico, exatamente porque o coro físico ATENUA  muito o efeito. 

Nosso corpo astral é um corpo EMOCIONAL . De certa forma isso significa que para esse corpo, a emoção é algo tão forte quanto uma ação física é para o coro físico. Pense no instinto, nos reflexos, que fazem seu corpo agir rápido e escapar de acidentes antes que você consiga perceber o que está acontecendo.

Da mesma forma, quando você está usando apenas seu corpo emocional, não serão os instintos, mas as emoções que governarão seu veículo, as menos que você tenha desenvolvido, EM VIDA, a capacidade de mantê-las sob controle. É por isso aliás que deve-se evitar os vícios, em vida, porque ao desencarnar eles estarão muito mais fortes e podem reduzi-lo ao estado de mero robô repetidor do seu vício. É isso que converte o viciado desencarnado em vampiro obssessor do viciado encarnado. Não se trata de maldade do vampiro obsessor, é que ele sente muito mais forte a pressão do vício, do  que um encarnado. Da mesma maneira, alguém que entra em estado de desespero emocional, ou depressão, ao desencarnar nesse estado, devido ao suicídio, ficará preso por um estado de desespero emocional muito mais intenso do que sentia em vida um estado do do qual não terá como sair em pouco tempo. 

Mesmo em vida, um estado emocional obssessivo não nos deixa concentrar em mais nada, porém, aqui no plano físico há uma enormidade de distrações. Se é verdade que elas dificultam nosso estudo trabalho leituras, etc, também é verdade que ajudam a quebrar o estados de fixação mental  negativa. É por isso que uma pessoa pode estar deprimida, mas melhorar após ver um programa de TV, ou receber a visita de algum amigo, ou apenas sair para alguma diversão. As demais possibilidades do plano físico, que você pode acessar apenas caminhando até elas, pegando um telefone, ou mesmo acionando o controle remoto da TV, passam a competir com o estado depressivo, na luta pela sua atenção. E quando elas ganham, você rompe seu estado mental negativo por algumas horas, ou dias. É uma forma de usar as incessantes distrações do plano físico a seu favor.

Mas por que isso é possível?

Porque embora seu corpo emocional esteja travado num estado negativo, você pode usar sua mente para mover seu corpo físico  em outras direções que não aquela d corpo emocional, em busca dessas distrações.  Esse é exatamente o problema do suicídio: ao desencarnar você não tem mais como fazer isso, o único corpo que terá para usar será o pacote  “corpo emocional+corpo mental”. E como o suicida não é muito bom em corpo mental (exatamente por isso ele não conseguiu dominar suas emoções e se suicidou) ao desencarnar você fica preso no estado emocional que te motivou ao suicídio, um estado do qual não haverá distrações, porque você não tem como comandar algum outro corpo que não seja tão emocional, para te tirar dessa.

Você se tornará refém das suas emoções negativas, que agora não darão nenhum folga.

Basicamente ao se suicidar você trocou  “muitos maus momentos” por um “mau momento contínuo”, sem intervalos, que em geral vai durar todo o tempo que lhe faltava viver, devido ao segundo problema:  os resíduos do corpo etérico. 

 

 

2- QUESTÃO ENERGÉTICA:

Como sabemos, o corpo etérico, entre outras funções, é o que mantém o corpo astral grudado no corpo físico. É exatamente por isso que uma das etapas projetivas é o " balonamento ": a expansão do corpo etérico. Ou seja, durante as etapas preparatórias da projeçao, o corpo etérico se expande, fica menos denso, o que permite a separação entre o corpo astral e o físico. É como se um eletroímã reduzisse a força e permitisse a retirada da peça presa nele, no caso, nosso corpo astral.

Porém,quando saímos do corpo, carregamos ainda algum resíduo de energia etérica, mas como essa nunca pode se afastar do corpo físico além de 4-5 metros, não a levamos junto conosco na projeção. É exatamente devido a esse resíduo que os projetores podem ter alguma dificuldade de movimento lucidez, ou visão nos primeiros metros, o que melhora tão logo ele se distancie do corpo físico.

A presença dessa energia etérica é o que nos mantém projetados próximos do plano físico, o que permite observar algo que comprove a projeção. Após essa energia recuar para o corpo físico, nós mudamos de faixa e em geral não percebemos mais o plano físico, mas apenas ecos dele nas faixas acima, no astral, o que introduz erros de observação, caso a pessoa esteja buscando comprovação na projeção. É por isso que comprovações da projeção são bem raras. No entanto, essas comprovações são relativamente comuns em  EQMs ( Experiências de quase-morte).

Numa EQM parece haver uma rápida e intensa extrusão da energia etérica junto com o corpo projetado, o que lhe permite permanecer projetado na zona física por muito mais tempo, e observar detalhes que acontecem em torno do corpo, ou no hospital onde está, podendo mais tarde ao retornar, confirmar detalhes observados enquanto esteve fora do corpo. Uma pessoa em EQM em geral obterá dados muito mais confiáveis sobre o ambiente físico do que um projetor astral normal, que perceberá outras faixas não físicas no ambiente, por estar menos denso que o “projetor-EQM”.

E é exatamente esse o problema do suicídio!

-Alguém que se projeta voluntariamente deixa o ambiente denso do físico, para um ambiente mais leve e livre, o astral. Por esta mias livre pode var, atravessar paredes, mudar de forma, etc.

-Um desencarnado comum também pode. 

-Mas um suicida não pode, porque ele está projetado carregando uma grande quantidade de energia etérica junto com ele, o que vai fazer com que ele não tenha como acessar o plano astral propriamente dito.

Ele ficará perambulando pelo ambiente físico, sem que ninguém o veja. E depois será atraído para faixas densas do astral, em que ele não pode voar, nem atravessar paredes nem mudar de forma, porque nessas zonas mesmo um projetor terá dificuldade com isso.
Exemplo: https://www.youtube.com/watch?v=72pWamkrtFc

Os habitantes dessas regiões estão imantados a elas, como nós do físico estamos presos pela gravidade, o que torna impossível sua saída delas.

Para saírem, esses seres sempre precisarão o auxílio de alguém de fora que venha  retirá-los, o que explica a ação de equipes socorristas, tão comuns na literatura espírita, e em geral uma realidade experimentada pelos projetores. 

Exs:

http://www.viagemastral.com/forum/index.php?/topic/19812-remomerei-uma-projeção-inconsciente/&do=findComment&comment=92338

 

https://youtu.be/0uk2eDSBrJU?t=4237


Some-se a isso o problema que o espírito seguirá conectado com seu corpo físico morto, o que o levará a sentir sintomas da decomposição, o que leva anos para concluir.

Isso acontece porque o corpo etérico é projetado para um tempo de vida programado, de modo que interromper a vida física antes da hora pode fazer com que o desencarnado siga atrelado ao seu corpo etérico por um tempo próximo ao que lhe restaria e vida, caso não tivesse cometido suicídio..

O resultado combinado desses fatores é o seguinte:

- o suicida, estando dominado por um estado emocional perturbador, após cometer o suicídio ficará por décadas:

------------------------ preso a esse mesmo estado emocional, mas amplificado e sem intervalos de distração
------------------------ preso a um ambiente astral denso, pesado, extremanente limitante da liberdade em todos os sentidos
------------------------ preso por alguns anos à conexão com o corpo físico decompondo-se.

E o que é pior: terá seqüelas, repercussão do ato destrutivo, no corpo da próxima encarnação. 

Por isso tudo que o suicídio é sempre a escolha mais ineficiente, pois a pessoa que o cogita pensa que ele significa algum tipo de libertação, por associá-lo à morte. Acontece que a morte  costuma ser a libertação das mazelas DO CORPO FÍSICO, mas somente quando chega da forma natural.

A morte não é libertações das mazelas mentais ou emocionais, porque nem o corpo emocional nem o corpo mental morrem. 

A libertação das mazelas mentais e emocionais se dá pela ENCARNAÇÃO, justamente porque estando embutidos num corpo físico, os nossos desequilíbrios mentais e emocionais não conseguem nos dominar de forma tão intensa, o que nos permite treinar, educar nossa mente e emoções gradativamente, para que possamos controlá-las, ao invés de elas nos controlarem. 


Um bom estado pós-mortem só pode ser garantido por uma boa experiência de vida, uma encarnação equilibrada, controlada. As “Quatro Nobres Verdades” http://www.templozulai.org.br/quatro-nobres-verdades e “O Caminho Óctuplo” http://www.templozulai.org.br/nobre-caminho-octuplo do Budismo resumem a fórmula de uma vida equilibrada, e como conseqüência, uma estado de pós vida também equilibrado. 

Estamos todos juntos nessa busca pelo equilíbrio, todos no mesmo barco, alguns com mais problemas a enfrentar, outros com menos. Só não tem mais essas dificuldades quem não precisa mais encarnar. Portanto, não se iluda achando que seu desespero é único, é o fim do mundo, é algo excepcional, diferente de tudo que os outros passam. Trata-se apenas de um olhar errado para o seu próprio sofrimento, um estado alterado de consciência, que te faz ver tudo amplificado, devido às emoções negativas a que você SE PERMITE ENTREGAR-SE.

O apaixonado vê o céu mais azul e as flores mais coloridas, o depressivo só vê o céu cinza e as flores murchas. Ambos estão num estado similar ao de um drogado, nenhum deles está percebendo a vida tal como ela é. Se esperarem tempo suficiente  as ilusões de ambos passarão e assim ambos chegarão à mesma conclusão:

“ Ahh, nem  era para tanto! ”

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/05/jovem-tenta-suicidio-sobrevive-e-reaprende-a-lidar-com-corpo-e-sonhos.shtml

Vou deixar aqui alguns textos a mais, só para ilustrar, complementar o que falei acima. 

Aqui o link para um tópico reunindo diversas explicações sobre os processos da morte comum:
http://www.viagemastral.com/forum/index.php?/topic/17098-visões-sobre-a-morte-e-o-post-mortem/

E abaixo trechos de relatos de pessoas que lembram do seu suicídio e ilustram, na prática, o que expliquei acima:
 

  • Like 3
  • Thanks 1
Link to comment
Share on other sites

Suicídio de Radamés

(Do livro: Moisés– O libertador de Israel- Roger Paranhos)

(....)
Após algum tempo de hesitação, caminhei dois passos em direção ao penhasco e permaneci observando a correnteza incessante das águas do Nilo. Estaquei o passo e fiquei balançando, como se estivesse desejando ingressar na Terra do Sol Poente pela porta dos fundos. 

Naquele momento, ouvi a voz de Ramósis, dizendo:

— Radamés, não cometas esse ato que causar-te-á um sofrimento inenarrável! O suicídio é um dos atos mais contrários à lei de Aton. Ele dá a vida; somente Ele pode
subtraí-la. 

Era possível sentir a presença do nobre mentor e amigo atrás de mim, como se ele estivesse trajando um corpo físico, como eu me habituara a vê-lo durante toda aquela existência. Lembrei-me dos belos momentos em que divagávamos sobre o futuro espiritual da humanidade, muitas vezes prescindindo de palavras, tal era a sintonia entre nossas almas. Estas reflexões intensificaram a minha dor e a saudade assaltou-me de tal forma que novamente demonstrei intenção de me arremessar nas águas escuras do Nilo.

— Radamés — falou Ramósis novamente —, essa atitude não nos aproximará. Pelo  contrário, ficaremos um tempo ainda mais longo separados. Abandonar a vida antes do prazo determinado pelo Criador somente atrasará a tua  jornada rumo à perfeição espiritual. Resiste Radamés, por Deus, resiste! 

 Lágrimas ardentes correram de meus olhos, já cansados de  vislumbrarem a maldade e a ignorância dos homens. Inclinei-me, determinado a lançar-me ao desconhecido e abandonar aquele mundo maldito. Nesse momento, ouvi a voz serena e harmoniosa de minha bela Ise: 

— Não faças isso, meu amor! Não faças! Eu te amo e não quero ver-te sofrer!

Ao ouvir a voz meiga e serena de minha idolatrada esposa, da qual não fui digno de viver à sua altura, cerrei os olhos, impulsionado por louca saudade, e apenas disse: 

— Preciso descansar! Há muita dor em meu coração! 

Resignada, Ise abaixou a cabeça e falou, em tom triste:

— Não terás descanso depois desse ato insano. Tem a certeza disso!

Eu apenas balbuciei, já fora de mim: 

— Eu sei, meu amor, mas essa dor é maior que a minha fraca força moral. Ao  contrário de ti, não sei aceitar as adversidades da vida. Não posso mais evitar. 

Sem esperar uma nova contestação, embalei definitivamente o meu corpo em direção ao penhasco. Em meio à queda, bati com o joelho direito numa rocha, rasgando a pele e provocando uma fratura exposta, antes de submergir nas águas revoltosas do Nilo.

Ao debater-me nas corredeiras do rio sagrado, pude ver Ise e Ramósis, abraçados, entre lágrimas, no topo da colina; um retrato fiel da dor e do sofrimento daqueles que amam e sofrem intensamente com a miséria alheia.

Por alguns instantes, o relógio do tempo parou e fiquei a observá-los, belos e  iluminados, enquanto o meu espírito se afogava em trevas, assim como ocorria ao meu corpo nas águas do rio caudaloso. 

Passado algum tempo, não mais os vi. Era-me dado o direito apenas de observar o movimento assustador das águas, como jamais tinha visto no Nilo. A todo instante, eu   engolia golfadas de água e o meu joelho doía como se um punhal o atravessasse impiedosamente. Então, orei intensamente para que minha vida se extinguisse o mais breve possível e, assim, me libertasse daquela agonia que parecia interminável.
Mas não era o que acontecia! O tempo passava, mas a minha existência e a noite não se findavam. Em alguns momentos, eu perdia a consciência, mas logo despertava para a dura realidade. Em outros instantes, parecia que eu vivia um terrível pesadelo. 

Como não despertava daquelas cenas de horror, terminava por certificar-me de que realmente tudo aquilo era real. Na verdade, o meu corpo já tinha sido resgatado há  muitos anos das margens do Nilo, mas eu ainda acreditava estar  lutando contra a morte, que parecia insistir em não me levar. O corpo morre, mas a alma continua sempre lúcida, vivendo intensamente o fruto de nossas ações.

Após longo período de reflexões, que me pareceram séculos, fui resgatado do turbilhão das águas do Nilo pelas mãos generosas de Ramósis.
 

Link to comment
Share on other sites

O Suicídio de Yvonne, de seu livro Recordações da mediunidade:

p.37:

Revivi então episódios graves de minhas existências passada e atrasada, existências cujos erros cometidos ocasionaram as lutas do presente, as quais em parte aqui descrevo. 

Assim sendo, vivi novamente a época em que fora filha de Charles (século 19), época em que possuíra carruagens, vestidos de rendas com longos babados e vivia num casarão senhorial, conforme eu mesma descrevia durante a infância, pois ele fora, com efeito, nobre europeu de família assaz conhecida na Espanha, em Portugal e na França, pelo menos, nome que não me permitirei revelar por ordem dele próprio. Dessa forma, atingi também a existência anterior e me encontrei cigana infeliz, na Espanha, bailando pelas ruas de Sevilha, de Toledo e de Madrid, e depois morrendo de miséria à frente de um palácio que eu rondava cheia de ânsias e amarguras e onde pouco depois reencarnava como filha de Charles, pois era ali a residência dele. 

Particularizarei, porém, apenas pequeno trecho da existência passada, mais interessante para estas páginas. A cena culminante do meu suicídio foi extraída dos meus arquivos mentais
com detalhes patéticos para mim mesma, exatamente os detalhes que serviriam de instrução e estímulo na situação em que me encontrava. 

Vi-me, não como em sonho ou refletida num espelho, mas agindo como se o fato se realizasse no momento, vi-me, primeiramente, em lágrimas e desesperos, indo e vindo, alucinada, pelo casarão que me fora tão querido, bradando pelos nomes dos meus seres amados recentemente desaparecidos, e de cujas mortes eu me responsabilizava.

Charles seguia-me e eu compreendia que ele, amorosamente, me advertia:

— Tem paciência e coragem, L, minha filha, volta-te para Deus e conseguirás forças para refletir e recomeçar a vida, consagrando-te ao bem...

— Está tudo perdido, é irremediável, meu pai, é irremediável, porque eles não voltarão para o meu lado a fim de me dedicar a ambos conforme mereciam e refazer com o bem o mal que pratiquei — respondi em desespero, sem querer ouvi-lo.

— Pensa um pouco em mim, lembra-te de que sou teu pai, e também a mim fazes infeliz com tal procedimento... Eu te quero acima de tudo, minha filha, não te faltarão amparo e
reconforto moral... Poderemos viajar, sairemos da Europa... Ouve meus conselhos, obedece-me, tenho direito ao teu acatamento e ao teu respeito, já que te esqueces do amor que também me deves...

E depois, no cemitério, eu me debruçava sobre o túmulo, presa de angústias Insuportáveis.

Em seguida, vi-me em preparativos para o suicídio, habilmente premeditado: Tomara uma carruagem e mandara tocar para local ermo, afastado da minha residência, uma chácara, ou quinta, em Lisboa, e que até bem pouco tempo eu visitava durante os desprendimentos parciais do meu espírito. O boleeiro, porém, relutava em atender. Eu sabia que a carruagem era de aluguel e não a  minha, ao reviver a cena. Mas ofereci-lhe quantia tentadora e ele partiu. 

No local previsto, sentada sobre umas pedras, próximo a uma ribanceira, que caía para o leito de grande rio, escrevi um bilhete a meu pai, despedindo-me  e rogando seu perdão. Angústia mortal me oprimia o coração e a dor insuportável do remorso e da saudade era que me impelia ao ato desesperado. Esse rio era o Tejo, de Portugal. Conquanto eu não houvesse sido portuguesa, minha morte, na existência passada, deu-se em Lisboa, assim como a daqueles que amei então. 

Entreguei o bilhete ao boleeiro, ordenando que o levasse ao destino. Ele relutou ainda, desconfiado, certamente, das minhas intenções, mas talvez movido pelo respeito, ou pelo hábito de obedecer, partiu, finalmente, deixando-me só. Via-me coberta de luto, chorando a morte de uma filha de seis anos de idade e do meu esposo de então, ou seja, aquele mesmo Roberto, cujo Espírito me aparecia agora, no presente, desde a infância. 

Reconhecendo-me só, naquele sítio deserto, alegria satânica acometeu-me.

Desfiz-me da capa de seda e gaze que trazia, jogando-a sobre as pedras, e atirei-me da ribanceira ao rio, sem vacilar. Reconheci-me  depois no fundo das águas, como que sem sentidos, sem movimento, mas não inconsciente, empapada de lodo, e depois flutuando sobre as águas para em seguida voltar ao fundo. A extensão das águas apavorava-me.

Os peixes que me roíam o corpo possuíam inteligência, eu os via atirando-se ao ataque sobre mim, compreendia seus intentos vorazes e suas ousadias como se se tratasse de um fenômeno de psicometria, o que me infundia terror indescritível. Eles me atacavam aos grupos, disputavam-me com voracidade inconcebível, brigavam por um lugar sobre mim própria, e a vida intensa que poderá existir no leito de um rio caudaloso tornou-se visível e sensível para mim, com intensidade tal que era como que um inferno liquefeito a me envolver no seu turbilhão de malefícios, oferecendo-me impressões e sensações inconcebíveis a um cérebro humano.

Vi-me, depois, retirada das águas por pescadores, ou homens contratados para o feito, que me suspenderam com dificuldade, auxiliados por enormes ganchos que me espetavam o corpo, fazendo-me sofrer ainda mais esse martírio; e depois, estirada no chão, à margem do rio, desnudada, pois as roupas se haviam rompido, estraçalhadas; em miserável estado de decomposição e devastada pelos peixes; e vi também Charles como louco, ajoelhado ao pé de mim, chorando, inconsolável. 

Eu queria falar-lhe, rogar-lhe que me levasse para casa, e me compusesse com outras roupas, pois eu não morrera, mas não podia articular nem mesmo um pensamento completo, tudo via e sentia através de um pesadelo infernal, tal o estado de desfalecimento e traumatismo que me tolhia. 

Vi que um ajuntamento de pessoas me rodeava, mas não reconheci ninguém, e me envergonhava porquanto me sentia desnudada. Percebi que me “supunham” morta e lamentavam o acontecimento, e terror indescritível de que me sepultassem viva, entrou a me exasperar, sem que, no entanto, eu pudesse dar o menor sinal de vida, adormentada como me encontrava naquele pesadelo sinistro, que enlouquece, sem contudo apagar a consciência. 

O remorso pelo ato desesperado começou a me pungir, em alternativa com os antigos sofrimentos, no momento em que vi Charles a chorar, e senti, então, e compreendi, só então, o imenso amor que seu coração me consagrava.

Ouvia-lhe as palavras:

— Porque fizeste isso, minha filha, por quê? Eu aconselhei-te tanto, supliquei-te que te voltasses para Deus e pensasses também um pouco em mim! Mas amaste a todos, em todos
pensaste, SÓ NÃO PENSASTE EM TEU PAI!

Tais lamentos eram acusações terríveis para a minha consciência, que se alucinava porventura ainda mais, compreendendo a justeza daqueles raciocínios: 

— Porque fiz isso, meu Deus, porque fiz isso? — era o pensamento interrogativo que agora me supliciava sem interrupção. 
— Porque fiz isso? 

Mas, que foi que fiz? Eu nada fiz, meu Deus... Meu pai, perdoa-me, atenderte-ei agora, nunca mais te desobedecerei, prometo, teus desejos serão ordens para mim, daqui em diante...
Fala, meu pai, dize o que devo fazer agora, e atenderei, dize se me queres ainda, mas, pelo amor de Deus, não chores assim, que isso me despedaça ainda mais o coração... leva-me daqui, vamos para nossa casa... quero voltar para nossa casa, quero voltar, quero voltar... E os outros, para onde foram? aqueles por quem tanto sofro?... Dizem que estou morta, no entanto vivo, não vês que estou viva e que te falo? Não estou morta, e por isso não encontrei senão peixes e mais peixes, feras detestáveis, e não os meus amados mortos... Porque fiz isso, meu Deus? Que se passa então? Estarei louca, finalmente? Que se passa, que se passa?...

 

Entrementes, não apenas o citado fenômeno se verificou durante o meu estado acima citado. Vi-me outrossim perseguida e aprisionada por falange maléfica de obsessores, encerrada em cavernas absurdas, que se me afiguravam crateras de vulcões extintos, abismos ocultos aos olhos humanos. Ali, seres negros, disformes e hediondos me supliciavam com torturas inconcebíveis, asseverando, todavia, que suspenderiam os suplícios se me aliasse de boa mente ao seu bando. Tais seres — eu o sabia — eram Espíritos de antigos inquisidores e seus carrascos, que levaram para a vida espiritual as trevas em que se envolveram durante a tragédia que alimentaram durante a encarnação. Aquele local seria, por assim dizer, “O Vale dos Suicidas”, descrito no volume MEMÓRIAS DE UM SUICIDA, que tão conhecido é da minha consciência, estado alucinatório obsessivo comum aos suicidas que carregam agravos de erros nos refolhos do Espírito. 

Ora, o certo é que, durante minha primeira infância, logo após reencarnar, eu despertava, altas horas da noite, em gritos alucinantes, dizendo que negros mascarados de dominós me retalhavam o corpo e queimavam os pés com ferros quentes ou fogo vivo. Eram, certamente, brados da subconsciência ecoando durante o sono e aflorando às recordações através do sonho;
 
Vi-me, porém, salva daqueles obsessores por outros grupos de trabalhadores do bem, que, orientados por individualidades espirituais certamente esclarecidas, como que me raptaram da dita caverna com o auxílio de certo elemento que se me afigurava corda, e me entregaram àqueles salvadores.
RECORDAÇÕES DA MEDIUNIDADE Yvonne Pereira.pdf

Link to comment
Share on other sites

(Outro caso, do mesmo livro acima)

p.56


O suicida Guilherme existiu em famosa cidade do Sul fluminense, deixou descendência numerosa, e, conquanto não o tivéssemos conhecido pessoalmente quando encarnado, chegamos a conhecer alguns membros da sua família.
(...)
— Até hoje não sou realmente capaz de me explicar a verdadeira razão pela qual, no mês de Junho de 1935, me vi desembarcando na Estação da antiga Estrada de Ferro Leopoldina
Railway, na cidade fluminense de Petrópolis.

 Se, outrora, como suicida que também eu teria sido, me vi socorrida por almas generosas do Espaço, as quais me ajudaram o reerguimento moral pelo amor de Deus, a lei suprema de mim exigiria agora que, por minha vez, eu socorresse a outrem, pois sabemos que essa lei  determina a solidariedade entre as criaturas de Deus, e jamais receberemos favores ou auxílios de outrem sem que, posteriormente, deixemos de transmiti-los também à pessoa do próximo. 

A residência que me deveria hospedar na cidade de Petrópolis localizava-se em bairro sombrio e afastado do centro urbano, nas proximidades de um convento da Ordem das Carmelitas e de um Seminário da Ordem de São Vicente de Paulo, o que a envolvia de perenes sugestões de melancolia. Fora construída por um operário alemão, que, por motivos financeiros, mais tarde se suicidara no sótão, que valia por outra residência, conforme o uso europeu, tão confortáveis era. 

Na primeira noite ali passada não me fora possível conciliar o sono para repousar, dado que me prenderam a atenção gemidos continuados, estertores indefiníveis, murmúrios confusos, ininteligíveis, que eu ouvia, como alguém que pretendesse em vão falar claramente, com a palavra arrastada e contida por obstáculos inconcebíveis. Pancadas no soalho, como se algo insistisse em bater pesada, mas surdamente, nas tábuas, de modo incompreensível, perturbaram-me  também durante toda a noite.

Visitei o sótão, que se conservava desabitado. Penetrando o recinto, senti-me invadir por influenciações geladas e contundentes, e chorei copiosamente, sem saber porque chorava. Mas nada vi, senão alguns móveis antigos, que ali eram depositados. Dois meses depois, no entanto, desvendou-se o mistério que me intrigava. 

A certa altura, muito concentrada na leitura edificante, que valia por fervorosa prece, e, por isso mesmo, já acionada para o intercâmbio com o mundo invisível, e talvez patrocinada pelos Guias Espirituais, distingui com precisão, além, no soalho do sótão, um homem a se esvair em sangue, debatendo-se nas convulsões de uma agonia dolorosa, murmurando palavras ininteligíveis, agitando as pernas e os braços de forma a produzir os ruídos secos por mim ouvidos desde o meu ingresso na casa. Sua agitação, lenta, penosa, dando impressão de um término de agonia, fazia-o mover também a cabeça e o corpo. Trajava camisa branca, completamente desabotoada e aberta, com mangas compridas, mas essa camisa encontrava-se empapada em sangue vivo. Ele como que acabara de desfechar um tiro de revólver no próprio coração e o sangue corria, tomando-lhe não só o tórax como também o abdômen, as mãos, os braços e a cabeça, encharcando os cabelos, pois derramava-se pelo chão, e ele, debatendo-se, envolvia-se tetricamente no próprio sangue. 

Então compreendi quanto se passava. Orei pelo pobre suicida, o qual talvez jamais tivesse  sido assistido por uma prece, e ofereci a Jesus meus préstimos a fim de socorrê-lo, como é dever de todo médium diante de um desencarnado em aflições. 


— Que poderei fazer por ele? — interroguei mentalmente, no fervor da prece.
— Orar! Falar-lhe! 

Envolvê-lo na piedade de vibrações amorosas! Despertá-lo do pesadelo em que se deprime há tanto tempo!

Orei então. Orava diariamente, com desprendimento e fervor, prostrando-me de joelhosem súplicas pelo suicida que eu ali via e mentalizando o Cristo de mãos estendidas para socorrê-lo, a fim de que de algum modo ele captasse a criação do meu pensamento e se esperançasse nele, tentando alívio para o próprio descontrole vibratório. 

Mas seria necessário obter o nome do suicida a fim de solicitar o socorro de irmãos  encarnados, em forma de preces e atração para as sessões chamadas de caridade, e, no dia seguinte à primeira noite em que vi o seu fantasma, interroguei o dono da casa sobre quem residira ali antes dele. Discorreu então este nos detalhes já citados, isto é, que ali residira o próprio construtor e primitivo proprietário do imóvel, o qual se suicidara com um tiro de revólver no coração, no sótão, havia dez anos, e que era de nacionalidade alemã e chamava-se Wilhelm (Guilherme). 

Tão impressionante espetáculo passou a ser constante e se prolongou durante quase todo o tempo que permaneci na «cidade das hortênsias», ou seja, um ano. Frequentemente, as demais pessoas da casa saíam à noite para o cinema, visitas, festas, etc. E, porque eu não me animasse a acompanhá-las, via-me só, às vezes até madrugada, num bairro afastado e sombrio, que ainda hoje não apresenta movimentação apreciável. Nessas condições, a sós, diante de Deus, eu havia de doutrinar com fraseado amoroso esse Espírito, em convulsões ao pé de mim, submerso em atroz pesadelo criado pelas alucinações do traumatismo vibratório consequente do suicídio, e fazê-lo despertar através das forças do pensamento. Reunia então toda a coragem da minha fé e da confiança no auxílio dos Guias Espirituais, e agia resolutamente, falava-lhe, exortando-o em nome de Jesus a voltar a si para dominar os próprios distúrbios mentais com a reação da vontade, que se deveria impor e vencer o colapso a que se entregava; 

Valeu-me em tão difíceis circunstâncias, além da misericórdia do Altíssimo, a assistência carinhosa dos tutelares invisíveis, cuja piedosa proteção eu sentia e agradecia, destacando-se,
todavia, o concurso das entidades Charles e Camilo Castelo Branco, este ainda não reencarnado, pela ocasião. 

Eis, no entanto, a essência do fenômeno, explicada pelo amigo espiritual Charles, agora, quando traço estas páginas, vinte e nove anos depois do fato ocorrido:

 

— “Também tu foste suicida, e, como tal, muito fizeste sofrer a outrem, mesmo àqueles que te procuraram socorrer, como Espírito. O suicídio é atestado de fraqueza e descrença geral, de desânimo generalizado, de covardia moral, terrível complexo que enreda a criatura num emaranhado de situações anormais. Seria necessário, pois, para desagravo da tua honra espiritual, que um dia testemunhasses valores em torno do complexo suicídio, e retribuísses a outrem o auxílio que obtiveste com a caridosa assistência daqueles que te socorreram outrora. O caso em apreço é um detalhe dos testemunhos que necessitavas apresentar à lei de reparações de delitos passados, testemunho de fé, tu que faliste pela falta de fé em ti mesma e no poder de Deus. Assim ligada a ti pelas correntes afins humanizadas, a entidade suicida adquiriu condições para se reanimar e perceber o que se tornava necessário à melhora do  próprio estado, revigorando-se vibratoriamente para se desvencilhar do torpor em que se deixava envolver. Compreendia, pois, a doutrinação que lhe fornecias, recebia os bálsamos magnéticos que lhe transmitias, como se se tratasse de aplicações de passes, e lentamente era beneficiada como em doses homeopáticas, pois era esse o único recurso existente para a suavização do caso. Não lamentes jamais as dores que experimentaste naqueles dias angustiosos de labor transcendente. Cumprias dever sagrado, reabilitavas tua consciência, servias ao Divino Mestre servindo à Sua ovelha transviada, e,  como o paciente que se recuperava sob os teus cuidados, também tu te recuperavas à sombra da lei da
fraternidade, que nos aconselha proceder com os outros como desejaríamos que os outros procedessem conosco. Como suicida, que também foste, estarás ligada aos imperativos das
consequências do ato praticado, e uma face de tais imperativos é a necessidade do socorro aos companheiros de infortúnio... até que a consciência se liberte do opróbrio que a macula, O suicídio é assim. Não é de outro modo. E tal como é, cumpre-nos enfrentá-lo e combatê-lo, para felicidade do gênero humano”.

 

Tão doloroso estado de coisas requereu da minha fé, do meu amor, da minha paciência e da minha coragem, todo o tempo que permaneci na «cidade das hortênsias», pois, somente poucos dias antes da minha partida dali, assisti à definitiva remoção do Espírito do pobre suicida do local. 
..................

p.76

Perguntar-se-á, no entanto, porque não foi a entidade Pedro retirada do ambiente pelo poder dos dois abnegados guias espirituais que orientaram o trabalho, como fora retirada a entidade suicida Adão.  A essa pergunta responderei que, em primeiro lugar, cumpre ao obreiro do Senhor obedecer aos seus dirigentes espirituais, executando as tarefas que lhe foram confiadas, e não tergiversar.  O mundo espiritual é complexo, as leis que o regem e as circunstâncias de vida muito elásticas e também complexas, e longe estamos de conhecê-lo em sua verdadeira estrutura para ousarmos criticar a forma de agir dos mentores invisíveis. Complexas serão, por isso mesmo, as circunstâncias dos casos a tratar, e, ignorando a razão por que recebemos uma incumbência e não outra qualquer, o que nos cumpre é obedecer às orientações recebidas e nos alegrarmos com a honra, que do Invisível recebemos, de trabalhar servindo à causa da fraternidade. 

Em segundo lugar, lembrarei que um suicida, presa de terríveis descontroles vibratórios, será aproximação psíquica bem mais incomodativa e perigosa para a criatura encarnada, que sofre e se enfraquece por este ou aquele motivo, do que uma pobre alma singela, ignorante, mas incapaz do mal voluntariamente, pois o primeiro poderia induzir ao suicídio, mesmo sem o desejar, aquele a quem influencia, ao passo que o segundo, tão necessitado de socorro, talvez ainda mais necessitado do que o próprio a quem assedia, estará em melhores condições para receber o esclarecimento necessário para se retirar voluntariamente e não ser expulso ou retirado sob coação. 

Ao demais, um suicida, tal seja a sua categoria espiritual, não possui nem mesmo condições para compreender advertências doutrinárias. É UM ALUCINADO QUE SE DEBATE CONTRA PESADELOS INCONTROLÁVEIS, SEM NOÇÃO DE SENSO NEM SERENIDADE PARA REFLETIR E VALER-SE DA PRÓPRIA VONTADE, RAZÃO PELA QUAL SERÁ REMOVIDO DO LOCAL ONDE SE ENCONTRAR, AO MAIS DAS VEZES, À REVELIA DE SI MESMO.
......
p.102
As referidas considerações recebemo-las do Espírito Dr. Adolfo Bezerra de Menezes e são apresentadas ao público a título de estudo e observação e não como afirmativa cabal, pois não ignoramos que jamais um médium, leigo sempre nas teses que recebe do Invisível e desconhecendo fundamentos científicos, poderá afirmar como expressão absoluta da realidade
aquilo que obtém através da sua faculdade, senão dar, ao estudo de adeptos credenciados pela competência e idoneidade de caráter, todo o produto da sua faculdade.

Eis a pergunta:


— “As doenças mentais são sempre vinculadas a problemas espirituais? Mesmo aquelas que têm substrato orgânico?”

Resposta do Espírito Dr. Bezerra de Menezes:
(...)

2 — “Um suicida poderá renascer em deplorável estado mental (psíquicofísico) cujos distúrbios, as mais das vezes, crescerão diariamente, à proporção que o perispírito melhor dominar o corpo, quando não for completamente anormalizado desde o nascimento: Um tiro no coração acarretará enfermidade pré-natal desse órgão. Um esmagamento por trem de ferro ocasionará entorpecimento vibratório do perispírito, dado o violento traumatismo que provoca, e, portanto, plenas disposições, no corpo material, para o entorpecimento dos músculos, dos nervos e até da medula espinhal e glândulas cerebrais, em encarnação imediata, e, assim, tendência quiçá irremediável para a paralisia, a demência, o retardamento intelectual, etc. Um tiro no ouvido, a surdez, um câncer ou anomalias do aparelhamento cerebral, quando não as mesmas tendências acima citadas, além de uma possível cegueira, pois o cérebro foi afetado pelo suicídio, o cérebro perispiritual ressentiu-se de tais efeitos através do próprio sistema de vibrações eletromagnéticas. O envenenamento acarretará enfermidade do aparelho digestivo, alteração do sistema circulatório, dispepsias nervosas, etc. E todas essas origens psíquicas, alterando os centros nervosos e o sistema de sensações existentes no cérebro, se ramificam, através do sistema nervoso, pelo aparelho humano, e vão afetar o órgão correspondente ao que, no perispírito, foi assinalado pelo ato anterior do suicídio. Não esqueceremos aqueles que se matam atirando-se de grandes alturas: esses poderão até mesmo renascer predispostos à loucura e, invariavelmente, serão nervosos, inquietos, terão ataques e serão tidos e havidos como epilépticos, quando suas convulsões e manifestações mórbidas nada mais serão do que vínculos mentais que revivem sensações passadas ao evento de uma contrariedade ou qualquer outro choque emocional. E eis novas doenças mentais vinculadas a problemas espirituais, pois tudo isso, alterando extraordinariamente o sistema nervoso, criou rede de complexos que afetará o bom funcionamento mental, visto que é o perispírito enfermo que está dirigindo um sistema nervoso que, necessariamente, se tornou igualmente enfermo. Muitos de tais pacientes dir-se-iam obsidiados. Mas em verdade não o são senão pelos próprios distúrbios conscienciais e emocionais que arrastam de uma existência a outra. E tanto necessitarão de um hábil psiquiatra como da reanimadora assistência do mundo espiritual e até da reeducação moral fornecida pelo Evangelho.
 

Link to comment
Share on other sites

Relato do suicídio d escritor Português  Camilo Castelo Branco, do livro psicografado  MEMÓRIAS DE UM SUICIDA, de Yvonne Pereira do Amaral

(p.21) 


Em geral aqueles que se arrojam ao suicídio, para sempre esperam livrar-se de dissabores julgados insuportáveis.  Também eu assim pensei. Enganei-me, porém; e lutas infinitamente mais vivas e mais ríspidas esperavam-me a dentro do túmulo a fim de me chicotearem a alma de descrente e revel, com merecida justiça. 

As primeiras horas que se seguiram ao gesto brutal de que usei, para comigo mesmo, passaram-se sem que verdadeiramente eu pudesse dar acordo de mim. Meu Espírito, rudemente violentado, como que desmaiara. Fora como se aquele estampido maldito tivesse dispersado uma a uma as moléculas que em meu ser constituíssem a Vida! 

A linguagem humana ainda não precisou inventar vocábulos bastante justos e compreensíveis para definir as impressões absolutamente inconcebíveis, que passam a contaminar o "eu" de um suicida logo às primeiras horas que se seguem ao desastre.

Nessas primeiras horas, sente-se  dolorosamente contundido, paradoxos turbilhonam em volta dele, sente a profundidade apavorante do erro contra o qual colidiu, deprime-se na aniquiladora certeza de que ultrapassou os limites das ações que lhe eram permitidas praticar.

Pouco a pouco, senti ressuscitando das sombras confusas em que mergulhei meu pobre Espírito. Senti-me enregelar de frio. Tiritava! Faltava-me, ao demais, o ar para o livre mecanismo dos pulmões. Odores fétidos e nauseabundos, todavia, revoltavam-me brutalmente o olfato. Dor aguda,violenta, enlouquecedora, arremeteu-se instantaneamente sobre meu corpo por inteiro, localizando-se particularmente no cérebro e iniciando-se no aparelho auditivo. 

Presa de convulsões indescritíveis de dor física, levei a destra ao ouvido direito: – o sangue corria do orifício causado pelo projétil da arma de fogo de que me servira para o suicídio e manchou-me as mãos, as vestes, o corpo... Eu nada enxergava, porém. Convém recordar que meu suicídio derivou-se da revolta por me encontrar cego, expiação que considerei superior às minhas forças. 

Sentia-me, pois, ainda cego; e, para cúmulo do meu estado de desorientação, encontrava-me ferido. Tão somente ferido e não morto! Porque a vida continuava em mim como antes do
suicídio! 

Revi minha vida em retrospecto, até à infância, e sem mesmo omitir o drama do último ato, programação extra sob minha inteira responsabilidade. Sentindo-me vivo, averigüei, conseqüentemente, que o ferimento que em mim mesmo fizera, tentando matar-me, fora insuficiente, aumentando assim os já tão grandes sofrimentos que desde longo tempo me vinham perseguindo a existência. 

Supus-me preso a um leito de hospital ou em minha própria casa. Mas a impossibilidade de reconhecer o local, pois nada via; os incômodos que me afligiam, a solidão que me rodeava, entraram a me angustiar profundamente. Bradei por meus familiares, por amigos que eu conhecia afeiçoados bastante para me acompanharem em momentos críticos. O mais surpreendente silêncio continuou enervando-me. 

Indaguei mal humorado por enfermeiros, por médicos que possivelmente me atenderiam, dado que me não encontrasse em minha residência e sim retido em algum hospital. Com espanto, em vez das respostas amistosas por que tanto suspirava, e que minha audição distinguiu, passadas algumas horas, foi um vozerio ensurdecedor, que, indeciso e longínquo a princípio, como a destacar-se de um pesadelo, definiu-se gradativamente até positivar-se em pormenores concludentes. Era um coro sinistro, de muitas vozes confundidas em atropelos,
desnorteadas, como aconteceria numa assembléia de loucos.


No entanto, estas vozes não falavam entre si, não conversavam. Blasfemavam, queixavam-se de múltiplas desventuras, lamentavam-se, reclamavam, uivavam, gritavam enfurecidas, gemiam, estertoravam, choravam desoladoramente,  Esse coro, isócrono, rigorosamente observado e medido em seus intervalos, infundiu-me
Tão grande terror que, reunindo todas as forças de que poderia o meu Espírito dispor em tão molesta situação, movimentei-me no intuito de afastar-me de onde me encontrava para local em que não mais o ouvisse.

Tateando nas trevas tentei caminhar. Mas dir-se-ia que raízes vigorosas plantavam-me naquele lugar úmido e gelado em que me deparava. Não podia despegar-me! Sim! Eram cadeias pesadas que me escravizavam, raízes cheias de seiva. Aliás, como fugir se estava ferido, desfazendo-me em hemorragias internas, manchadas as vestes de sangue, e cego, positivamente cego?! Como apresentar-me a público em tão repugnante estado?...

E, considerando insolúvel a situação, entreguei-me às lágrimas e chorei angustiosamente, ignorando o que tentar para meu socorro. Mas, enquanto me desfazia em prantos, o coro de loucos, sempre o mesmo, trágico, funéreo, regular como o pêndulo de um relógio, acompanhava-me  com singular similitude, atraindo-me como se imanado de irresistíveis afinidades...

Após esforços desesperados, levantei-me. Meu corpo enregelado, os músculos retesados por entorpecimento geral, dificultavam-me sobremodo o intento. Todavia, levantei-me. Ao fazê-lo, porém, cheiro penetrante de sangue e vísceras putrefatos reacendeu em torno, repugnando-me até as náuseas. Partia do local exato em que eu estivera dormindo. Não compreendia como poderia cheirar tão desagradavelmente o leito onde me achava. Para mim seria o mesmo que me acolhia todas as noites! E, no entanto, que de odores fétidos me surpreendiam agora!

Atribui o fato ao ferimento que fizera na intenção de matar-me,  a fim de explicar-me de algum modo a estranha aflição, ao sangue que corria, manchando-me  as vestes. Realmente! Eu me encontrava empastado de peçonha, como um lodo asqueroso que dessorasse de meu próprio corpo, empapando incomodativamente a indumentária que usava, pois, com surpresa, surpreendi-me trajando cerimoniosamente, não obstante retido num leito de dor.

Confundia-me na interrogação de como poderia assim ser, visto não ser cabível que um simples ferimento, mesmo a quantidade de sangue espargido, pudesse tresandar a tanta podridão, sem que meus amigos e enfermeiros deixassem de providenciar a devida higienização.

Inquieto, tateei na escuridão com o intuito de encontrar a porta de saída que me era habitual. Tropecei, porém, em dado momento, num montão de destroços e, instintivamente, curvei-me para o chão, a examinar o que assim me interceptava os passos. O montão de escombros era nada menos do que a terra de uma cova recentemente fechada! 

Não sei como, estando cego, pude entrever, em meio as sombras que me rodeavam, o que existia em torno! Eu me encontrava num cemitério! Os túmulos, com suas tristes cruzes em mármore branco ou madeira negra, ladeando imagens sugestivas de anjos pensativos, alinhavam-se na imobilidade majestosa do drama em que figuravam.

A confusão cresceu: – Por que me encontraria ali? Como viera, pois nenhuma lembrança me acorria?... E o que viera fazer sozinho, ferido,dolorido, extenuado?...

Era verdade que "tentara" o suicídio, mas...Sussurro macabro, qual sugestão irremovível da Consciência esclarecendo a memória aturdida pelo ineditismo presenciado, percutiu estrondosamente pelos recôncavos alarmados do meu ser:

"Não quiseste o suicídio?... Pois aí o tens..."

Memórias de um Suicida (psicografia Yvonne do Amaral Pereira - espírito Camilo Cândido Botelho).pdf

Link to comment
Share on other sites

(continuação)

Mas, como assim?... Como poderia ser... se eu não morrera?!... Acaso não me sentia ali vivo?... Por que então sozinho, imerso na solidão tétrica da morada dos mortos?!...

Não concluíra ainda minhas ingênuas e dramáticas interrogações, e vejo-me, a mim próprio! Como à frente de um espelho, morto, estirado num ataúde, em franco estado de decomposição, morto dentro de uma sepultura, justamente aquela sobre a qual acabava de tropeçar!

Como louco que realmente me tornara, eu corria, corria, enquanto aos meus olhos cegos se desenhava a hediondez satânica do meu próprio cadáver apodrecendo no túmulo,

Torneia minha casa. Surpreendente desordem estabelecera-se em meus aposentos, atingindo objetos de meu uso pessoal, meus livros, manuscritos e apontamentos, os quais já não
eram por mim encontrados no local costumeiro, o que muito me enfureceu. Dir-se-ia que se dispersara tudo! Encontrei-me  estranho em minha própria casa! Procurei amigos, parentes a quem me afeiçoara.

Cerca de dois meses vaguei desnorteado e tonto, em atribulado estado de incompreensão. Revoltas, blasfêmias, crises de furor acometiam-me. 

Desesperado em face do extraordinário problema, entregava-me cada vez mais ao desejo de desaparecer, de fugir de mim mesmo , incapaz de raciocinar que, em verdade, o corpo físico material fora realmente aniquilado pelo suicídio; e que o que agora eu sentia confundir-se com ele, solidamente a ele unido por leis naturais que o suicídio não destrói, era o físico-espiritual, indestrutível e imortal.

Certa vez em que ia e vinha, tateando pelas ruas.. ao dobrar de uma esquina deparei com certa multidão, cerca de duzentas individualidades de ambos os sexos. 

Essa multidão, entretanto, era a mesma que vinha concertando o coro sinistro que me aterrava, tendo-a eu reconhecido porque, no momento em que nos encontramos, entrou a uivar
desesperadamente, atirando aos céus blasfêmias diante das quais as minhas seriam meros gracejos! Tentei recuar, fugir, ocultar-me  dela, apavorado por me tornar dela conhecido. Porém, porque marchasse em sentido contrário ao que eu seguia, depressa me envolveu, misturando-me ao seu todo para absorver-me completamente em suas ondas!
Fui levado de roldão, empurrado, arrastado mau grado meu; e tal era a aglomeração que
me perdi totalmente em suas dobras

Apenas me inteirava de um fato, porque isso mesmo ouvia rosnarem ao redor, e era que estávamos todos guardados por soldados, os quai  nos conduziam. A multidão acabava de ser aprisionada! A cada momento juntavase, a ela outro e outro vagabundo, como acontecera comigo, e que do mesmo modo não mais poderiam sair. Dirse-ia que esquadrão
completo de milicianos montados conduzia-nos à prisão.

( JÁ VI ISSO ACONTECER EM PROJEÇÃO. NUM DADO MOMENTO ESTÃO TODOS SOLTOS, VIVENDO SUAS VIDAS, NO MOMENTO SEGUINTE  PARECE QUE SURGE UMA IMANTAÇÃO QUE APRISIONA TODA A MULTIDÃO, OS AGRUPA  E OS FAZ ANDAREM COLADINHOS, COMO SE ESTIVESSEM TENTADO DISPUTAR UMA VAGA NO ÚLTIMO TREM DA NOITE, IDÊNTICO A ISTO: HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/NTDTELEVISION/VIDEOS/3056952164346873/ )

Protestei contra a violência de que me reconhecia alvo. Em altas vozes bradei que não era criminoso e dei-me a conhecer, enumerando meus títulos e qualidades. Mas os cavaleiros, se me ouviam, não se dignavam responder. Silenciosos, mudos, eretos, marchavam em suas montadas fechando-nos em círculo intransponível!

Cavernas surgiram de um lado e outro das ruas que se diriam antes estreitas gargantas entre montanhas abruptas e sombrias, e todas numeradas. Tratava-se, certamente, de uma estranha "povoação", uma "cidade" em que as habitações seriam cavernas. 

Cada um de nós, no Vale Sinistro, vibrando violentamente e retendo com as forças mentais o momento atroz em que nos suicidamos, criávamos os cenários e respectivas cenas que vivêramos em nossos derradeiros momentos de homens terrestres. Tais cenas, refletidas ao redor de cada um, levavam a confusão à localidade, espalhavam tragédia e inferno por toda a parte, seviciando de aflições superlativas os desgraçados prisioneiros. 

Assim era que se deparavam, aqui e ali, forcas erguidas, baloiçando o corpo do próprio suicida, que evocava a hora em que se precipitara na morte voluntária.

Veículos variados, assim como comboios fumegantes e rápidos, colhiam e trituravam, sob suas rodas, míseros tresloucados que buscaram matar o próprio corpo por esse meio execrável, os quais, agora, com a mente "impregnada" do momento sinistro, retratavam sem cessar o episódio, pondo à visão dos companheiros afins suas hediondas recordações. 

Rios caudalosos e mesmo trechos alongados de oceano surgiam repentinamente no meio daquelas vielas sombrias: – era meia dúzia de réprobos que passava enlouquecida, deixando à mostra cenas de afogamento, por arrastarem na mente conflagrada a trágica lembrança de quando se atiraram às suas águas!... 

Homens e mulheres transitavam desesperados: uns ensangüentados, outros estorcendo-se no suplício das dores pelo envenenamento, e, o que era pior, deixando à mostra o reflexo das
entranhas carnais corroídas pelo tóxico ingerido, enquanto outros mais, incendiados, a gritarem por socorro em correrias insensatas, traziam pânico ainda maior entre os companheiros de desgraça, os quais receavam queimar-se ao seu contacto, todos possuídos de loucura coletiva! 

E coroando a profundeza e intensidade desses inimagináveis martírios – as penas morais: os remorsos, as saudades dos seres amados, dos quais se não tinham notícias, os mesmos dissabores que haviam dado causa ao desespero e que persistiam em afligir!...

...................

(P14)

Era eu, pois, presidiário dessa cova ominosa do horror! Não habitava, porém, ali sozinho. Acompanhava-me uma coletividade, falange extensa de delinqüentes, como eu.

Então ainda me sentia cego. Pelo menos, sugestionava-me de que o era. . A mim cego não passaria, contudo, despercebido o que se apresentasse mau, feio, sinistro, imoral, obsceno, pois conservavam meus olhos visão bastante para toda essa escória contemplar . 

Às vezes, conflitos brutais se verificavam pelos becos lamacentos onde se enfileiravam as cavernas que nos serviam de domicílio. Invariavelmente irritados, por motivos insignificantes nos atirávamos uns contra os outros em lutas corporais violentas, nas quais, tal como sucede nas baixas camadas sociais terrenas, levaria sempre a melhor aquele que maior destreza e truculência apresentasse.

 Freqüentemente fui ali insultado, ridiculizado nos meus sentimentos mais caros e delicados com chistes e sarcasmos que me revoltavam até o âmago; apedrejado e espancado até que, excitado por fobia idêntica, eu me atirava a represálias selvagens, ombreando com os agressores e com eles refocilando na lama da mesma ceva espiritual!

A fome, a sede, o frio enregelador, a fadiga, a insônia; exigências físicas martirizantes, fáceis de o leitor entrever; a natureza como que aguçada em todos os seus desejos e apetites, qual se ainda trouxéssemos o envoltório carnal; a promiscuidade, muito vexatória, de Espíritos que foram homens e dos que animaram corpos femininos; tempestades constantes, inundações mesmo, a lama, o fétido, as sombras perenes, a desesperança de nos vermos livres de tantos martírios sobrepostos, o supremo desconforto físico e moral – eis o panorama por assim dizer "material" que emoldurava os nossos ainda mais pungentes padecimentos morais!

Não sabíamos quando era dia ou quando voltava a noite, porque sombras perenes rodeavam as horas que vivíamos. Perdêramos a noção do tempo. A contagem do tempo, para aqueles que mergulhavam nesse abismo, estacionara no momento exato em que fizera para sempre tombar a própria armadura de carne!

(Se, por muito longo, esse estágio exorbite das medidas normais ao caso – a reencarnação imediata será o tratamento indicado, embora dolorosa, o que será preferível a muitos anos em tão desgraçada situação, assim se completando, então, o tempo que faltava ao término da existência cortada.)

Procurávamos então fugir do local maldito para voltarmos aos nossos lares; e o fazíamos desabaladamente, em insanas correrias de loucos furiosos! Malditos, sem consolo, sem paz, sem descanso em parte alguma... ao passo que correntes irresistíveis, como ímãs poderosos, atraíam-nos de volta, arrastando-nos de envolta a um turbilhão de nuvens sufocadoras e estonteantes!

De outras vezes, tateando nas sombras, lá íamos, por entre gargantas, vielas e becos, sem lograrmos indício de saída... Cavernas, sempre cavernas – todas numeradas –; ou longos espaços pantanosos quais lagos lodosos circulados de muralhas abruptas, que nos afiguravam levantadas em pedra e ferro, como se fôramos sepultados vivos nas profundas tenebrosidades de algum vulcão! Era um labirinto onde nos perdíamos sem podermos jamais alcançar o fim! 

Por vezes acontecia não sabermos retornar ao ponto de partida, isto é, às cavernas que nos serviam de domicílio, o que forçava a permanência ao relento até que deparássemos algum covil desabitado para outra vez nos abrigarmos. Nossa mais vulgar impressão era de que nos encontrávamos encarcerados no subsolo, em presídio cavado no seio da Terra.


Como se fantásticos espelhos perseguissem obsessoramente nossas faculdades, lá se reproduzia a visão macabra: – o corpo a se decompor sob o ataque dos vibriões esfaimados; a faina detestável da podridão a seguir o curso natural da destruição orgânica..


– Vivos, nós, em espírito, diante do corpo putrefato, sentíamos a corrupção atingir-nos!...

Doíam em nossa configuração astral as picadas monstruosas dos vermes! Enfurecia-nos até a demência, a martirizante repercussão que levava nosso perispírito, ainda animalizado e provido de abundantes forças vitais, a refletir o que se passava com seu antigo envoltório limoso,  

Mas o suicídio é uma teia envolvente em que a vítima – o suicida – só se debate para cada vez mais confundir-se, tolher-se, embaraçar-se. Sobrepunha-se a confusão. Agora, a persistência da autosugestão maléfica recordava as lendas supersticiosas, ouvidas na infância e calcadas por longo tempo nas camadas da subconsciência; corporificava-se em visões extravagantes, a que emprestava realidade integral. Julgávamo-nos nada menos do que à frente do tribunal dos infernos!

Espíritos de ínfima classe do Invisível – obsessores que pululam por todas as camadas inferiores, tanto da Terra como do Além; OS MESMOS QUE HAVIAM ALIMENTADO EM NOSSAS MENTES AS SUGESTÕES PARA O SUICÍDIO, divertindo-se com nossas angústias, prevaleciam-se da situação anormal para a qual resvaláramos, a fim de convencer-nos de que eram juízes que nos deveriam julgar e castigar, apresentando-se às nossas faculdades conturbadas pelo sofrimento como seres fantásticos, fantasmas impressionantes e
trágicos. Inventavam cenas satânicas, com que nos supliciavam.  

Obrigavam-nos a torpezas e deboches, violentando-nos a compactuar de suas infames  obscenidades! Donzelas que se haviam suicidado, desculpando-se com motivos de amor.. eram agora insultadas no seu coração e no seu pudor por essas entidades que as faziam crer serem obrigadas a se escravizarem por serem eles os donos do império de trevas que
escolheram em detrimento do lar que abandonaram! Em verdade, porém, tais entidades não passavam de Espíritos que também foram homens, mas que viveram no crime: sensuais,
alcoólatras, devassos, intrigantes, hipócritas, perjuros, traidores, sedutores, assassinos perversos, caluniadores, sátiros – enfim, essa falange maléfica que infelicita a sociedade terrena, que muitas vezes tem funerais pomposos e exéquias solenes, mas que na existência espiritual se resume na corja repugnante que mencionamos.

Nas peripécias que o suicida entra a curtir depois do desbarato que prematuramente o levou ao túmulo, o Vale Sinistro apenas REPRESENTA UM ESTÁGIO TEMPORÁRIO, sendo ele para lá  encaminhado por movimento de impulsão natural, com o qual se afina, ATÉ QUE SE DESFAÇAM AS PESADAS CADEIAS QUE O ATRELAM AO CORPO FÍSICO TERRENO, destruído antes da ocasião prevista pela lei natural. 

Será preciso que se DESAGREGUEM DELE AS PODEROSAS CAMADAS DE FLUIDOS VITAIS QUE LHE REVESTIAM A ORGANIZAÇÃO FÍSICA, adaptadas por afinidades especiais da Grande Mãe Natureza à organização astral, ou seja, ao perispírito, as quais NELE SE AGLOMERAM EM RESERVAS SUFICIENTES PARA O COMPROMISSO DA EXISTÊNCIA COMPLETA; que se arrefeçam, enfim, as mesmas afinidades, labor que na individualidade de um suicida será acompanhado das mais aflitivas dificuldades.

Periodicamente, singular caravana visitava esse antro de sombras. Vinha à procura daqueles dentre nós cujos fluidos vitais, arrefecidos pela desintegração completa da matéria, permitissem locomoção para as camadas do Invisível intermediário. Em vão clamavam por socorro os que se sentiam preteridos, incapacitados de compreenderem que, se assim sucedia, era porque nem todos se encontravam em condições vibratórias para emigrarem para regiões menos hostis. E assim ficavam... Quanto tempo?... Até que suas inimagináveis condições (energéticas)  lhes permitissem também a transferência para localidade menos trágica...

Link to comment
Share on other sites

Trechos do novo livro "Cura pela Luz Interior" ("Core Healing") de Barbara AnnBrenna:

---------------------------------

A Entidade "Maligna" Escura
(...)
Uma de minhas amigas no grupo Cayce, íris, estudava o budismo tibetano. Meditara por vários anos. Fui até sua casa para algumas meditações privadas com ela. Durante essas meditações silenciosas, ambas tivemos as mesmas visões simbólicas. Eu, com minha formação científica, sempre lhe perguntava o que ela estava vendo, em vez de lhe comunicar primeiro minhas visões. Esse tipo de confirmação era muito útil e me encorajou a continuar buscando clareza na PSS (clarividência) e compreensão dos mundos espirituais.

Anos depois, quando eu estava no último ano do meu treinamento na bioenergética, aconteceu algo que me ensinou que há diversas maneiras de interpretar a experiência psíquica e que é imprescindível saber fazer isso de maneira positiva, eficaz. Ficou claro que um dos pré-requisitos mais importantes para se aprender a apurar a PSS é um conhecimento profundo, bem fundamentado - conhecimento dos nossos processos psicológicos, conhecimento de como funciona nosso sistema de energia-consciência e a maneira de regulá-lo. Tudo isso, na verdade, exige muito treinamento e processo pessoal.

Um cliente do terapeuta na clínica onde eu estava treinando, a quem chamarei de Bud, se enforcara. Não sei o motivo nem as circunstâncias de sua vida. Bud foi cremado e suas cinzas trazidas à sala do nosso grupo de meditação para uma cerimônia. Não conheci Bud, apenas o vira quando ele comparecia às suas sessões. Também não conhecia muito o seu terapeuta. Durante a cerimônia, minha curiosidade sobre a morte realmente se aguçou. Eu queria saber onde Bud estava. Depois da meditação, pus as mãos na urna das cinzas e projetei nelas minha consciência.

“Bud, onde você está?"

 

Pude sentir a energia aguda, agitada, incoerente e inflamada das cinzas - uma espécie de consciência esforçando-se para se libertar. Foi tudo o que senti. No dia seguinte, eu estava sozinha em casa quando bateram à porta. Eram minha vizinha bibliotecária e a senhora que morava no andar de baixo. Disseram ter pensado que minha casa estava pegando fogo e que eu devia sair dali. Respondi que talvez fosse culpa das vidraças embaçadas! Elas me convidaram para o chá. Aceitei. Tão logo nos sentamos, uma delas me perguntou: “Alguma vez você já saiu pela porta através de sua testa?

“Não, mas gostaria de tentar!”

Assim, noite afora, tentamos sair pelas portas através de nossas testas. Uma das mulheres náo conseguia. Vi a bibliotecária se transformar num ponto dourado de luz e sair pela porta. Eu também me transformei num ponto dourado de luz. Dirigi-me à porta e parei. Estava à beira de um abismo — um nada infinito e escuro que parecia repleto de vida indiferenciada. O medo me impedia de pular no abismo, de modo que continuei ali parada e chamei Bud. 


Duas horas depois, tudo começou a ficar muito estranho. Uma das mulheres decidiu tentar a escrita automática. Estava rabiscando quando, de repente, parou, apontou para alguma coisa que desenhara no papel e exclamou:

“Essa é uma entidade muito maligna!”

O cachorro começou a latir na cozinha e nós três ficamos aterrorizadas. Procuramos nos acalmar. Continuei ali por mais algum tempo e depois fui embora. Então, comecei a ver a grande entidade negra que me seguia. Eu não sabia o que fazer. Felizmente, estava sozinha em casa, de modo que ninguém mais se envolveu. Caminhei ao redor da casa, tremendo e com uma Bíblia na mão. Tracei cruzes com água nas paredes. Não funcionou. Passei as noites seguintes mergulhada no terror. 

Alguns dias depois, encontrei-me com uma curadora da Europa. Ela tentou remover a entidade, mas não conseguiu. Por fim, disse: “Essa entidade maligna tem perseguido você por várias existências! Vamos, reúna suas forças e lute! Faça de tudo para vencer. Mas não se preocupe: se perder, só perderá seu corpo!” Isso, é claro, não me fez sentir melhor! Só serviu para aumentar o meu terror.

Por fim, chegou a hora da sessão regular com meu terapeuta bioenergético. Ele não pareceu muito preocupado nem interessado. Não podia ver a entidade negra, mas podia ver meu terror. Ajudou-me a trabalhar o medo do desconhecido; a entidade negra, porém, não se afastou.

O terapeuta disse:

“Você precisa trabalhar mais esse problema. Posso lhe reservar mais sessões. Ainda bem que não foi a um psiquiatra, pois ele lhe daria drogas e internaria você”.

Marquei mais sessões bioenergéticas pessoais, durante as quais consegui encarar meus medos e acalmar-me até certo ponto. A entidade continuava ali e eu a temia. Como nenhuma das pessoas que eu conhecia podia vê-la, comecei a questionar minha sanidade mental.

Lembrei-me então de íris, do grupo Cayce, e liguei para ela. Não lhe falei sobre a situação, apenas perguntei:

“Posso meditar com você de novo?”
“Sim. Venha às três da tarde.” 


Quando cheguei, íris não me convidou para entrar, como sempre fazia. Em vez disso, levou-me para o jardim. Sentamo-nos debaixo de uma macieira e ali ficamos meditando em silêncio. Começamos e encerramos a meditação ao mesmo tempo, sem dizer palavra, tal como havíamos feito antes.

Íris disse:

“Você está sendo invadida por uma entidade muito escura. Sua aura está negra do peito para baixo. Só o que tem a fazer é expelir a entidade do seu corpo com luz branca, superar o medo e enviar a ela amor incondicional a fim de conduzi-la para a luz. Eu ajudarei. Essa ‘entidade escura’ enfrentou-me antes da sua chegada, mas não permiti que me invadisse."


A parte do “superar o medo” é que não parecia tão fácil. De novo, eu me sentia aterrorizada. Tentei me acalmar ao máximo e voltei a meditar em silêncio com íris.
Comecei a expulsar a “entidade” do meu corpo com luz branca que puxei do chakra da coroa e a mantive junto ao intruso com amor. Esforcei-me para vencer o medo e sentir amor incondicional. Era realmente difícil. Concentrei- -me na luz e no amor, continuando a expulsar a entidade do meu corpo com luz branca. Podia ver (de olhos fechados) íris enviando também luz e amor ao intruso. Ele saiu do meu corpo e pôs-se a andar na minha frente e na direção de íris. Então um pensamento engraçado cruzou minha mente:

Se você acha que está na pior, pense nele. Ele nem sequer  tem um corpo!

Ri por dentro e senti amor incondicional por aquela pobre criatura que estava perdida sem um corpo físico. Enquanto eu o inundava de amor, ele foi passando de um cinza-marrom-preto sujo para cinza, para cinza mais claro e, por fim, luz branca. Vi-o aproximar-se de íris e ficar ainda mais luminoso. Depois, quando íris e eu o preenchemos com amor incondicional, seu CEH foi aos poucos se transformando em luz branca e a criatura se libertou de vez. Quando íris e eu encerramos nossa meditação silenciosa, ela descreveu exatamente o que eu tinha visto. Íris disse:

“Mandei-lhe luz e amor, mas ele não se moveu até você também lhe mandar luz. Então, depois que finalmente superou seu medo, você o tirou do seu corpo com amor incondicional. Ele caminhou à sua frente e veio até mim. Suas cores ficaram mais claras. Quando chegou perto, enviei-o para uma luz com brilho cintilante. E ele se libertou na luz”. 

Voltei para casa em paz. Nunca mais vi a criatura.

Uma Interpretação Mais Pertinente da Experiência com a “Entidade Maligna”: 

Passado algum tempo, percebi que a experiência com Bud estava ligada à que tive com a “entidade escura”. Essa perspectiva tornou mais fácil para mim lidar com o episódio. Depois de trabalhá-lo durante certo tempo em minhas sessões, e encarar o meu medo, ficou claro para mim que Bud era a entidade escura. Depois dessa experiência, vi vários suicidas que ficaram muito escuros quando perceberam o que haviam feito. Ou seja, matar-se não ajuda em nada.

Depois que a pessoa desencarna, descobre que continua como antes, afligida pelos mesmos problemas e inquietações, mas já não tem um corpo físico para estabilizar suas emoções, medos e auto-julgamentos. Na verdade, auto-julgamentos e medos aumentam e ela não tem a capacidade de regular suas experiências ou percepções.

Numa situação como a de Bud, uma vez no mundo astral, a pessoa tende a ficar perdida. A curadora europeia, que aprendera cura na velha tradição do seu continente, e íris, treinada na tradição tibetana, chamavam Bud de entidade escura porque o CEH dele estava muito escuro. Nenhuma das duas tinha a informação que adquiri depois, ao adotar a perspectiva de uma terapeuta bioenergética/física para reinterpretar, de um ponto de vista mais ocidental, esse fenômeno observado. 

O CEH de Bud estava escuro devido a seu desespero e culpa por ter se suicidado. Ele já sofria muito antes de se suicidar. Não sei a causa do seu estado porque não era sua terapeuta e, na época, não a investiguei com a PSS. Mais tarde, como acontece à maioria das pessoas que se suicidam, ele se sentiu muito culpado pelo que tinha feito, pois o problema não só não desaparece após o suicídio como pode piorar. Depois de deixar o corpo, a pessoa não conta mais com sua proteção para evitar ou regular o grau de sentimentos negativos sobre si mesma e seu desespero pelo que fez.

Eu, primeiro, havia me projetado nas cinzas de Bud e depois, à beira do abismo entre os mundos, chamara por ele. Vendo as coisas sob uma nova perspectiva, Bud veio a mim em busca de ajuda, pois eu o invocara; pude vê-lo e fazer contato com ele, naquelas condições. 

Outros, exceto a curadora europeia e íris, não poderiam. Agora sei que Bud se agarrara desesperadamente às minhas pernas no esforço de náo se perder no astral. Isso é comum quando as pessoas cometem suicídio. Depois, há tanto sofrimento e culpa que elas mergulham numa depressão ainda mais profunda que antes. Também costumam ficar perdidas, pois não sabem como viver no mundo astral.

Pode-se ver isso de duas maneiras: da perspectiva dualista, dividida, dessa entidade maligna escura tentando me destruir ou considerando que Bud, depois de se enforcar, mergulhou numa escuridão profunda e real. E quem invocou Bud? Eu! 
Portanto, olhei e vi o que a experiência realmente era. Bud estava de joelhos, agarrando-se a mim para fazer contato, pois se perdera. Nós o ajudamos a se libertar na luz.

A moral dessa história é: quando você tem medo, vê monstros. A maioria dos ensinamentos no mundo reflete o dualismo do bem versus o mal. Existem monstros negros e anjos grandes, maravilhosos. Quase todos os ensinamentos são assim, em lugar de “eis aí uma pessoa que decaiu muito e teve grandes tributações na vida”. Bud se sentiu tão mal consigo mesmo que se suicidou; chamei-o e ele veio em busca de ajuda. É bem diferente.

Essa experiência teve um profundo impacto no modo como passei a interpretar os fenômenos psíquicos do astral. Boa parte dos ensinamentos no mundo é muito negativa, como rotular “seres do astral inferior” como maus ou malignos e enviá-los para lugares ainda mais inferiores, como o inferno. Francamente, não se deve fazer tal coisa. Essas pessoas/seres necessitam de ajuda. A última coisa de que precisam é de mais energia negativa projetada ou impingida neles.

Os seres que vivem na escuridão se esqueceram totalmente de sua verdadeira natureza divina. Necessitam de ajuda tanto quanto todos nós
 

Link to comment
Share on other sites

Guest
This topic is now closed to further replies.
×
×
  • Create New...